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SERIA SAPKOWSKI O TOLKIEN DO SÉCULO XXI?

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9 de outubro de 2019

Olá taverneiros! Nesse meu primeiro pergaminho voltado às vossas nobres mentes, venho trazer um pequeno debate sobre o universo da fantasia e os livros do nosso bruxo favorito!

*Atenção: o texto a seguir expressa a opinião da autora em questão e não reflete o pensamento da equipe da taverna como um todo. Estejam também à vontade para discordar e expressar seus próprios pontos de vista!*

Lembro de quando li o Hobbit pela primeira vez: um livro todo gasto e esquecido no canto da biblioteca da minha escola. O ritmo da história, o envolvimento com os personagens, todo um universo fantástico repleto de línguas únicas e terras extensamente descritas. Aquilo me fascinou a tal modo que virei uma traça dos livros de Tolkien rapidamente, hoje tendo uma coleção extensa de suas obras na minha estante. E, anos depois, tendo meu primeiro contato com os jogos da série The Witcher e descobrindo que os mesmos eram baseados em livros, me tornei também uma leitora de Sapkowski, me levando à colocar seus livros acima até mesmo de outros aclamados, como Harry Potter ou As Crônicas de Gelo e Fogo. E por que isso? Por um motivo simples: The Witcher conseguiu me envolver em seu universo fantasioso muito melhor do que os demais citados acima.

O que torna uma fantasia realmente boa?

Tolkien, filólogo e professor aclamado de Oxford, escreveu em sua vida diversos ensaios sobre o mundo da fantasia, sendo um dos mais famosos “Sobre histórias de fadas”, onde o mesmo critica a redução do antigo, poderoso e mitológico reino de Fae à criaturinhas minúsculas de carinha fofa que vivem em florzinhas e ajudam princesinhas à se casarem. Entre seus ensaios, crônicas e artigos, ficam evidentes alguns elementos que compõe basicamente uma fantasia:

– O mundo: este deve ter um mapa reconhecível pelos leitores, ser bem descrito e possuir uma lógica em relação ao desenrolar da história. Como em um RPG, o básico é definir a geografia, nomes e interações dos locais e, obviamente, os povos e raças que habitam esse mundo;

– Personagens: podem ser apenas dois ou uma gama gigantesca de nomes, raças e papéis, desde que estes tenham um desenvolvimento razoável e um envolvimento com a história central, mesmo que o façam de maneira subjetiva. De nada adianta perder horas à descrever com detalhes o rosto da filha do taverneiro, se nem mesmo pra servir a mesa dos personagens da história ela será utilizada;

– Línguas: aqui, todo cuidado é pouco. É interessante ter línguas diferentes para diferentes povos, mas é preciso que elas mantenham uma consistência e lógica. Usar o mesmo termo, pronunciado exatamente da mesma forma, para descrever três coisas completamente diferentes em livros diferentes, não exime o autor de receber críticas e reclamações de seus fãs;

– História: chegamos à cereja do bolo. Aqui, existem alguns pontos clássicos que tornam um conto fantasia ou não. Teremos sempre um herói ou um grupo de heróis, uma motivação para sua jornada, uma jornada com desafios e problemas, um mal (que pode ou não se resumir à uma pessoa ou objeto) e, finalmente, um triunfo final, podendo este ser alegre e repleto de felicidade, ou dramático com pouco a se comemorar.

Partindo desses pontos, vamos analisar os livros de Sapkowski e o que ele tem de diferente em relação aos demais autores de fantasia da nossa época!

Um sucesso imprevisto.

O universo de The Witcher começa aparentemente como uma reunião de pequenos contos acerca das aventuras de Geralt como bruxo (não era de se esperar outra forma, visto que a história surgiu como um manuscrito de 30 páginas para um concurso literário, como a maioria dos fãs já está cansado de saber).

Aos poucos, conforme se avança nos livros, nota-se os elementos de fantasia se construindo com perfeição, a começar pelo capítulo a Espada do Destino, onde temos finalmente a recompensa que Geralt fez Duny lhe prometer sendo entregue da maneira mais inesperada possível. A partir deste ponto, o que antes era apenas uma reunião de aventuras e contos, começa a tomar um rumo. Nosso herói, recebe seu propósito, proteger e criar Ciri, em um mundo que parece se revoltar contra o laço do destino que os une.

Utilizando de temáticas como o ódio racial (a guerra contra os Nilfgaardianos, que explode em uma intolerância contra todos os não-humanos) e a guerra por poder (a “corrida maluca” para ser o pai dos filhos de Ciri), os livros não deixam nada da fantasia clássica de fora, ao mesmo tempo que trazem alguns elementos um pouco mais reais para o universo. Os personagens heróicos não são livres de falhas: eles xingam quando tem vontade, cospem, tem relações amorosas cuja descrição não para no beijo romântico (se é que vocês me entendem!), e assumem condutas e escolhas que passam o mais longe possível do ideal heróico ou cavalheiresco.

Mas mesmo com esses fatores, nenhuma passagem do livro é desperdiçada ou adicionada em vão. Sapkowski não perde páginas descrevendo o corpo nu de um personagem, não exagera em nenhuma cena e passa longe da famosa “crueldade desmedida”, adicionada muitas vezes só para causar polêmica ou para agradar fãs mais agressivos. Suas histórias também demonstram uma boa pesquisa em seu desenvolvimento, utilizando muitos personagens do folclore eslavo e da mitologia nórdica e britânica como pano de fundo para as missões de Geralt e dificuldades enfrentadas por Ciri.

E onde eu quero chegar com isto? Bom, caro leitor, pare e pense por um minuto sobre os últimos livros do gênero de fantasia que você leu e que não foram escritos por Tolkien ou Sapkowski.

Agora responda honestamente: eles envolvem cenas de sexo ou não? Essas passagens são excessivamente descritivas ou simplesmente utilizadas para marcar o relacionamento de um dos personagens centrais com algum potencial par romântico? E as cenas violentas? Alguém morreu na batalha? Era um personagem cuja morte faz sentido no contexto em que foi colocada ou apenas alguém destruído para causar polêmica entre os leitores? Os diálogos entre os personagens fazem sentido? Os personagens realmente são bem elaborados ou sofrem do famoso complexo de imagem ideal (fortão perfeito e donzela frágil)?

A partir dessas respostas, podemos analisar se um livro dentro do gênero de fantasia vale a leitura ou não. The Witcher marcou todos os pontos na minha tabelinha de livros que valem a pena serem lidos. Ritmo de leitura agradável, que faz com que não se precise ser um gênio ou erudito para entender o que está acontecendo, ao mesmo tempo que não é “infantilizado”, as línguas criadas para o livro tem um sentido geral fácil de compreender (não é difícil ler Squirrel’s Tail quando se vê o termo Scoia’tael), suas cenas violentas são todas bem montadas, sendo as torturas e descrições de morte sempre utilizadas para enfatizar a crueldade de seus executores ou aumentar a empatia do leitor por aqueles que sofrem a execução, o uso de cenas de sexo é equilibrado e as descrições condizentes com o grau de relacionamento entre os personagens nelas envolvidos e, por último, os personagens utilizados são bem trabalhados, sendo que mesmo os mais rasos possuem um grau de profundidade e uso razoável na história.

Por estes pontos, além da versatilidade de adaptação da história à diversas mídias, sinto que Sapkowski merece não só o título de “Tolkien polonês”, como também o de “Tolkien do século XXI”. Se não concordam comigo, ficarei mais do que feliz de me sentar convosco na taverna e ter um bom momento de prosa.

E se seu conhecimento de The Witcher parou apenas nos jogos, convido a ler os livros. Com certeza muitas coisas das horas de jogatina farão mais sentido e surgirão muitas perguntas divertidas à respeito das liberdades criativas utilizadas nos jogos.

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